sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Abstnência

Abstinência
Era uma bela manhã de inverno, decidi ir tomar o café da manhã na ‘ Exper café’ , uma agradável lanchonete a duas quadras da minha casa. O local estava praticamente vazio, havia apenas um belíssimo rapaz de olhos claros, cabelos negros, lendo o jornal e tomando uma xícara de café.. Acredito que tenha sido amor a primeira vista. Até então, não teria visto tamanha perfeição em pessoa. Fiquei à admira-lo até ele ir embora.
No dia seguinte voltei a lanchonete no mesmo horário na esperança de vê-lo novamente. E ele estava lá, do mesmo modo do dia anterior, lendo o jornal e tomando sua xícara de café.
Passei então a ir todos os dias, no mesmo horário para ver e admirar tal exuberância, tal perfeição. Como pode uma pessoa ficar tão presa ao pensamento de outra? Pois, foi isso que aconteceu. Não conseguia parar de pensar nele. Todo dia, todo hora, a cada segundo, ele permanecia preso em meu pensamento.
Quinta-feira era o dia de limpeza. Ao chegar na lanchonete, me dirigindo a mesa de sempre, esbarrei num balde, que por ironia do destino estava ao lado de sua mesa, e levei um belo de um tombo. Bati a cabeça e fiquei inconsciente por alguns instantes. Ao abrir os olhos...

-Tudo bem? Você levou um belo de um tombo, hem?-ele me perguntou.
Nossa. Acho que só por causa disso, o mico que paguei valeu a pena.
-Tudo, está tudo bem.-Respondi enquanto ele me ajudava a levantar.
- Venha, sente-se aqui comigo. Garçom, por favor, traga uma bolsa de gelo- dirigiu-se a mim novamente - para colocar na sua cabeça.Pelo visto a batida foi forte.
- Não, não precisa, eu estou bem- Respondi totalmente sem jeito.
- Tem certeza?
- Tenho sim.
- Está certo.-dirigiu-se ao garçom- garçom, mudamos de idéia. Traga mais uma xícara de café.
A sua educação me encantava. Lindo, simpático e educado. Meu Deus! Que sonho! Que Homem!
- À sim, prazer. Meu nome é Álex Correia. E o seu?
-Meu nome é 'Piter Prado'.O prazer é todo meu.
Sim, eu sou homem, tenho 25 anos e sim, eu sou homossexual.
Começamos a conversar, conversa aliás agradabilíssima. O tempo passou que nem percebi. Ele disse que precisava trabalhar. Trocamos telefones e nos despedimos.
A parti daí, começamos a tomar café sempre juntos. Nos tornamos amigos.
Num sábado à noite meu celular toca. Surpresa total. Era o Álex me chamando para sair. Eu aceitei, é claro.
Fomos a uma boate super badalada. Ele não sabia que eu sou homossexual. Eu não havia contado. E acredito que meu jeito não exprima isso. Há tempos que eu não me divertia tanto.
Passamos a sair sempre juntos para noitadas de farra e curtição.
Com o passar do tempo, comecei a dar bandeira. O olhava tão fixamente. Não conseguia mais esconder o exagero de amor que sentia (e sinto) por ele. Meus dias ao seu lado eram únicos. Uma amizade única. Uma felicidade única. Álex dizia que eu fui o melhor amigo que havia encontrado em sua vida. De certa forma, isso me decepcionava, pois, na verdade, não era apenas a sua amizade que me interessava. Por isso que eu sofria. Um sofrer por causa da falta de algo que você realmente deseja.
Mas por outro lado, eu estava feliz, pois sabia que um dia ele me amou. Não da forma esperada e desejada, mas pelo menos era um amor puro e verdadeiro, que me concedeu os dias mais felizes de minha vida.
O dia 12 de junho de 2006 foi decisivo para esse relacionamento. Era 1:00h da madrugada, eu e Álex, estávamos voltando de uma festa, quando me disse que havia recebido um tal bilhete o elogiando e coisa e tal. Pedir-lhe que me mostrasse (não sei se foi só por curiosidade ou também por ciúmes) e ao pegar o papel, sem querer o deixou cair. Abaixamos de vez para apanhá-lo, e, de repente, nos olhamos tão profundamente, que, eu não aguentei e o beijei. Foi a pior burrada da minha vida. Ao beijá-lo, me empurrou rapidamente e levantou-se. Estava com raiva, apavorado. Deu para sentir através de seu olhar. Mas não foi só. Ele puxou-me pela gola e me deu um soco, de tanta força, que me jogou contra a parede. Fiquei ali, deitado, com o nariz sangrando e chorando, durante horas.
Álex havia ido embora.
Tentei falar com ele no dia seguinte, no outro, no outro...
Não retornava as minhas ligações.
A parti daí comecei a o observar de longe, pois, por mais que eu tentasse, não conseguia me livrar do vicio que era e que é esse amor.
Hoje está casado, acabou de ter uma filha, está muito feliz. Nem deve lembrar que eu existo.
Eu? Bem...me comparo com o sol que está cercado por estrelas, mas que nunca os vemos juntos ao olho nu, mas, com certeza se usarmos um equipamento bastante sofisticado os veremos. É como eu. Estou cercado por tamanha abstinência que ao me verem superficialmente não nos verás juntos, mas aos que me olharem profundamente, com olhares de sentimentos, verão que ela está aqui, comigo, sempre, e que dificilmente irá me deixar.


Ayres Santos

7 comentários:

  1. Bacana seu texto!
    Mesmo muito grande, recomendaria diminuir um pouco.

    Mas, sobre ele, ás vezes acontece coisas inesperadas em nossas vidas, cabe a nós levantar a cabeça e seguir em frente.

    Beijos.

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  2. Gostei do texto,um pouco longo ,mas legal!

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  3. Abstinência é um conto que evolui um pouco o conceito do outro, o Brincou de me Amar, pois este é mais epistemológico e busca uma interiorização amadurecido das relações humanas que não acontecem no lapso homem e mulher, e, sim no interior de cada personagem como se houvessem uma autonomia conectiva e uma interdependência também conectiva.

    PARABÉNS, A EQUIPE LIVRE SERVIÇOS, TE INDICA A IDÉIA DE VIRAR ESCRITORA!

    http://livreservicos.blogspot.com/

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  4. JÁ COMENTEI, MARAVILHOSO TEXTO!

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  5. Ne pra quem quer nao meu Amigo..!
    Eh pra quem Pode,,Garota tem Dom..!^^

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